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26.6.11

Fantasmas de tijolo

No início de março de 2011 voltei a Czernowitz. O alfabeto cirílico, as marcas da União Soviética no quotidiano, visíveis em automóveis e interfones, a preocupação do povo sofrido em se agitar para ter o que comer no dia seguinte - tudo isso contrasta com a arquitetura do centro da cidade, heranças austríaca e romena, como se aquele cenário não tivesse absolutamente nada a ver com a peça que está sendo ora representada.

Fora a minoria romena, que deplora ainda hoje, em surdina, a perda da Bucovina setentrional e sua capital Czernowitz para a então República Socialista Soviética da Ucrânia no fim da II Guerra Mundial, o resto da população não parece estar consciente - e deveria estar? - de habitar lugares que outrora constituíam talvez a mais cosmopolita das cidades do Império Austro-Húngaro, de inigualável efervescência cultural.

Encontrei a Grande Sinagoga [foto acima], construída na primeira metade do século XIX em estilo típico da Galícia, no centro do antigo bairro judaico, na atual rua Henry Barbusse, albergando um ateliê de portas e janelas e outros pequenos negócios em seu quintal, como por exemplo o comércio de cruzes para cemitérios. O atual proprietário parece estar tratando bem do imóvel na medida do possível, tendo inclusive mantido uma inscrição em hebraico descoberta por cima da entrada principal. Desde 1865, quando o bairro judaico foi consumido por um incêndio, a sinagoga gerou várias lendas a respeito de seu poder miraculoso ao sair ilesa em meio às labaredas.

Atrás dela encontram-se as ruínas de um hospital judaico [foto ao lado] construído na década de 1930 graças à doação do famoso tenor judeu-alemão Joseph Schmidt, nascido na Bucovina em 1904.

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