A cidade portuária de Burgas, a antiga Pyrgos grega, onde foi perpetrado, dia 18 de julho passado, um sangrento atentado terrorista visando turistas israelenses, foi num passado não muito distante um importante centro comercial cosmopolita que reuniu gregos, búlgaros, turcos, armênios e ciganos, e que também contou com uma significativa comunidade judaica.
Testemunho da presença dos judeus em Burgas é uma imponente sinagoga, construída em 1909 e arquitetada pelo italiano Ricardo Toscani, numa rua central da cidade.
À diferença do destino de outras sinagogas no território búlgaro, que se transformaram em ruínas, a de Burgas teve a sorte de abrigar, em 1966, uma galeria de arte. Tal insólito fato, que garantiu e tem garantido até hoje sua boa manutenção, foi naturalmente favorecido pela emigração massiva da comunidade judaica búlgara para a Palestina logo após o término da II Grande Guerra.
No dia 7 de julho, ao visitar a cidade no calor do verão balcânico, hesitei entrar na galeria. Atravessei os seus umbrais e me dirigi ao guichê, decorado com cartões que reproduziam obras de arte cristãs-ortodoxas do acervo, para comprar o bilhete de entrada. Dominado por uma estranha sensação, uma náusea que se insinuou talvez bobamente, desisti e decidi deixar o prédio, lançando antes um olhar para o salão do térreo, onde um piano de cauda aguardava um concerto, e para os degraus que sinuosos davam acesso ao andar de cima.
Era como se houvesse sido acometido por uma vergonha diante de todos aqueles que, no passado, freqüentaram a sinagoga enquanto sinagoga, e agora eu manchasse sua memória. Não deveria entretanto alegrar-me com o fato de o prédio ter sido preservado? Algo, porém, impediu-me de ali entrar.
Testemunho da presença dos judeus em Burgas é uma imponente sinagoga, construída em 1909 e arquitetada pelo italiano Ricardo Toscani, numa rua central da cidade.
À diferença do destino de outras sinagogas no território búlgaro, que se transformaram em ruínas, a de Burgas teve a sorte de abrigar, em 1966, uma galeria de arte. Tal insólito fato, que garantiu e tem garantido até hoje sua boa manutenção, foi naturalmente favorecido pela emigração massiva da comunidade judaica búlgara para a Palestina logo após o término da II Grande Guerra.
No dia 7 de julho, ao visitar a cidade no calor do verão balcânico, hesitei entrar na galeria. Atravessei os seus umbrais e me dirigi ao guichê, decorado com cartões que reproduziam obras de arte cristãs-ortodoxas do acervo, para comprar o bilhete de entrada. Dominado por uma estranha sensação, uma náusea que se insinuou talvez bobamente, desisti e decidi deixar o prédio, lançando antes um olhar para o salão do térreo, onde um piano de cauda aguardava um concerto, e para os degraus que sinuosos davam acesso ao andar de cima.
Era como se houvesse sido acometido por uma vergonha diante de todos aqueles que, no passado, freqüentaram a sinagoga enquanto sinagoga, e agora eu manchasse sua memória. Não deveria entretanto alegrar-me com o fato de o prédio ter sido preservado? Algo, porém, impediu-me de ali entrar.