
Testemunho da presença dos judeus em Burgas é uma imponente sinagoga, construída em 1909 e arquitetada pelo italiano Ricardo Toscani, numa rua central da cidade.
À diferença do destino de outras sinagogas no território búlgaro, que se transformaram em ruínas, a de Burgas teve a sorte de abrigar, em 1966, uma galeria de arte. Tal insólito fato, que garantiu e tem garantido até hoje sua boa manutenção, foi naturalmente favorecido pela emigração massiva da comunidade judaica búlgara para a Palestina logo após o término da II Grande Guerra.
No dia 7 de julho, ao visitar a cidade no calor do verão balcânico, hesitei entrar na galeria. Atravessei os seus umbrais e me dirigi ao guichê, decorado com cartões que reproduziam obras de arte cristãs-ortodoxas do acervo, para comprar o bilhete de entrada. Dominado por uma estranha sensação, uma náusea que se insinuou talvez bobamente, desisti e decidi deixar o prédio, lançando antes um olhar para o salão do térreo, onde um piano de cauda aguardava um concerto, e para os degraus que sinuosos davam acesso ao andar de cima.
Era como se houvesse sido acometido por uma vergonha diante de todos aqueles que, no passado, freqüentaram a sinagoga enquanto sinagoga, e agora eu manchasse sua memória. Não deveria entretanto alegrar-me com o fato de o prédio ter sido preservado? Algo, porém, impediu-me de ali entrar.