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28.11.08

Vilna: Capital Européia da Cultura em 2009

A Lituânia comemora, em 2009, mil anos da primeira menção histórica do seu nome. Em 14 de fevereiro de 1009, no manuscrito medieval dos Anais de Quedlinburg (vide foto abaixo), encontra-se mencionado o assassinato de um certo arcebispo, São Bruno, na fronteira dentre a Lituânia e aquilo que viria a se tornar a Rússia. Por conta dessa comemoração, em 2009, Vilna receberá o título de Capital Européia da Cultura.

Mil anos atrás, um caráter profundamente militar perpassava a sociedade lituana. Seus habitantes construíram centenas de castelos de madeira para se protegerem dos ataques dos cavaleiros teutônicos e manterem sua independência.

Esses castelos não foram, entretanto, sua única modalidade de defesa. Em meados do século XIV, os artesãos alemães começaram a construir os primeiros muros de pedra e tijolo, que podem ser vistos ainda hoje, como por exemplo o castelo Gediminas de Vilna, de onde se tem uma visão panorâmica da capital lituana. O centro velho, parte do patrimônio mundial da UNESCO, é um arco-íris de estilos arquitetônicos: o renascimento italiano, o barroco e sobretudo o gótico influenciaram a silhueta dos prédios, muitos deles modelados conforme o espírito bizantino.

Embora a Lituânia tenha sido um dos últimos países europeus a se converter ao Cristianismo, o centro histórico da capital soma hoje em torno de 40 igrejas. A mais visitada delas é a Igreja de Santana, que Napoleão, durante a ocupação de Vilna em 1812, tencionou desmontar e levar para Paris.

A História, por outro lado, não foi nada generosa com as sinagogas. A capital lituana, conhecida no passado como Cidade das Cem Sinagogas ou Jerusalém da Lituânia, tem hoje um único templo reservado aos judeus. O resto foi destruído durante a II Guerra Mundial, quando centenas de milhares de judeus lituanos pereceram.

20.11.08

A vinda dos primeiros bessarábios

A história da imigração rural dos judeus para o Brasil, no período republicano, começou com a iniciativa do Barão Maurício de Hirsch, francês de origem judaica, banqueiro em Bruxelas. Com a idéia de um projeto que ajudasse os judeus a se transferirem para terras mais pacíficas, imunes à intolerância religiosa ou étnica, o Barão de Hirsch criou, em 1891, uma organização para a instalação de colônias agrícolas em diversos países: a Jewish Colonization Association (conhecida como JCA). Foi esta organização que financiou a emigração dos judeus russos para o Brasil e Argentina.

O Barão Hirsch teve o apoio do capital de banqueiros e filantropos judeus como Lord Rothschild, Barão Goldsmid, Ernest J. Cassel, F. D. Mocatta, D. H. Goldschmidt, Salomão Reinach, Benjamin L. Cohen e o Barão de Philippson.

Para estabelecer as colônias agrícolas, a JCA adquiriu, em 1903, uma área de 5.767 hectares em Santa Maria, que foi a primeira colônia judaica no Brasil. Essa colônia foi chamada de Philippson, em homenagem a Franz Philippson, vice-diretor da JCA e presidente da Compagnie Auxiliaire de Chemins de Fer au Brésil, que atuava no Rio Grande do Sul.

Em Philippson, a partir de 1904, instalaram-se os primeiros imigrantes judeus, oriundos da Bessarábia – região russa entre os rios Prut e Dniester, banhada pelo mar Negro. Na nova terra, os imigrantes receberam lotes de 25 a 30 hectares, com uma residência, instrumentos agrícolas, duas juntas de bois, duas vacas, carroça, cavalo e sementes, a um preço de cerca de cinco contos de réis, a serem pagos em prazos de 10 a 15 anos.

Pouco a pouco, chegaram outros imigrantes e a área territorial, com as novas aquisições da JCA, se estendeu de Philippson a Erebango a e Quatro Irmãos, regiões localizadas no Alto Uruguai, próximos a Marcelino Ramos, na fronteira com Santa Catarina.

Curiosidades sobre a Estrada de Ferro Jewish Colonization - visível no mapa acima - no Rio Grande do sul, leia aqui.

Fonte: artigo Maurício Tragtenberg: Identidade e alteridade, de Antonio Ozaí da Silva

15.11.08

Berenstein

A romena naturalizada brasileira Pola Berenstein, 80 anos, que mora com a família no Recife, foi outra entrevistada [pela Fundação Shoah]. Filha de judeus, ela foi levada ao campo de concentração de Transnístria, antigo território romeno. “Lembro da noite em que começou a guerra. Minha irmã me disse: ‘Acorda, temos que fugir.’ Passei três anos e meio num campo de concentração, sem roupa, sem comunicação, sem nada”, relata Pola, com memória invejável.

Fonte: artigo Arquivo do Horror, de autoria de Kátia Mello, publicado em 15 de fevereiro de 2002 pela IstoÉ Online.

14.11.08

Fux

Transcrevo, a seguir, fragmento de texto autobiográfico de autoria do Ministro Luiz Fux, do Superior Tribunal de Justiça:

Meu nome completo é Luiz Fux. Nasci no dia 26 de abril de 1953, no Rio de Janeiro. Sou carioca da gema, como se dizia antigamente. Minha mãe é Lucy Fux. Meu pai chama-se Mendel Wolf Fux, imigrante romeno, brasileiro naturalizado. Meu pai é advogado. Ele era contador e, já depois da família crescida - eu tenho mais duas irmãs - resolveu fazer o curso de Direito, tendo o concluído com uma certa idade. Atua na área de contencioso Cível, normalmente em causas adstritas às justiças locais. Meu pai nunca advogou lá no Tribunal Superior. A minha família é de exilados de guerra, da perseguição nazista. Tenho origem judaica. Meu avô e a minha avó se reencontraram no Brasil, após três anos separados. A minha avó conseguiu vir primeiro, exilada, depois é que veio o meu avô. Chegando aqui, meu avô exerceu uma função bastante humilde. Ele vendia roupas para pessoas de classe baixa, nas populações mais carentes. Meu avós morreram com uns 92 anos. Eles foram muito gratos ao fato de terem sido bem acolhidos no Brasil. Tanto que o meu avô também assumiu uma entidade que era casa de acolhida de idosos, pessoas mais velhas desvalidas. Já minha avó era presidente de uma entidade que acolhia crianças abandonadas, o Lar das Crianças Israelitas.

Fonte: Faculdade de Direito da UERJ

Enxadrista romeno-brasileiro

O enxadrista brasileiro Alexandru Sorin Segal nasceu em Bucareste, na Romênia, em 1947. Formou-se em Economia pela Faculdade de Ciências Econômicas de Bucareste em 1970 e chegou ao Brasil em 1971, radicando-se em São Paulo. É Mestre Internacional desde 1977; árbitro internacional desde 1982; foi campeão brasileiro absoluto 3 vezes; campeão paulista absoluto 4 vezes; representante olímpico titular 5 vezes. Participou de mais de 900 Torneios Nacionais e Internacionais e é autor de Fundamentos de Tática, publicado em 1982 pela Livraria do Clube de Xadrez.

10.11.08

Judeus russos no Recife

Reproduzo, abaixo, fragmento do artigo Judeus celebram 100 anos no Estado, de autoria de Daniel Leal, publicado em 31 de agosto de 2008 pela Folha de Pernambuco:

Este ano está se comemorando os cem anos da presença judaica em Pernambuco. Na verdade, esse centenário é o da terceira leva judaica que chegou ao Nordeste brasileiro, já que os judeus encontram-se presentes na região desde 1503, com a sua chegada à ilha de Fernando de Noronha.

A comunidade judaica tem importância fundamental na história do Recife [na foto de ca. 1885, a Rua dos Judeus]. Na época da dominação holandesa, uma grande quantidade de judeus se estabeleceu no local. A formação da primeira comunidade judaica no Estado ocorreu no início do século 17, graças à liberdade religiosa do governo de Maurício de Nassau, época em que foi fundada, inclusive, a Primeira Sinagoga das Américas.

Com as perseguições aos judeus no século 20, novamente Recife se transformou em uma possibilidade de liberdade para o povo judaico. A partir do início do século 20, um grupo de imigrantes formou no Estado uma pequena comunidade, originando a que persiste até hoje, plenamente integrada, atuante social, cultural e economicamente.

E eles vieram de longe: o czar da Rússia, precisando responsabilizar alguém pela situação de calamidade em que vivia o povo russo, acabou conseguindo culpar os judeus pela desarmonia do país. “A atual comunidade judaica foi formada por refugiados vindos da Rússia. No tempo do Czarismo, a situação era difícil. Era grande a pobreza entre a população, os judeus não podiam estudar nem trabalhar e ainda eram mortos, vítimas do preconceito”, contou a presidente do Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco, Tânia Kaufman.

Anete Hulak é, hoje, um símbolo de todo o desenvolvimento judaico em Pernambuco. Aos 106 anos, lúcida, ela é a pessoa mais antiga da comunidade judaica do Estado. “Invadiram a Bessarábia (atual Romênia) e tivemos que fugir. Em 1924, viemos para o Brasil. No começo, ainda mantínhamos correspondência com os amigos que ficaram lá, mas, depois, com a guerra, perdemos o contato. Tive problemas com a língua, isso é natural. Eu vim porque tinha duas irmãs aqui. Agora, sou naturalizada brasileira”.

3.11.08

A cabala pelo romeno Moshe Idel

A escolha de Cabala, Cabalismo e Cabalistas como obra inicial da Coleção de Estudos Judaicos, uma parceria da editora Perspectiva de São Paulo e do Centro Internacional para o Ensino Universitário da Civilização Judaica, da Universidade Hebraica de Jerusalém, não vem por acaso.

Neste livro, organizado por Moshe Idel, filósofo israelense nascido em 1947 na cidade romena de Târgu Neamt, reúnem-se, em caleidoscópio e sob o prisma cabalístico, filosofia, religião, pietismo e ritual, a partir de textos relevantes da especulação mística no judaísmo, que remontam ao fim da Antigüidade e à baixa Idade Média, chegando aos dias atuais.

O presente volume, editado e traduzido neste ano de 2008 pelo bessarábio radicado no Brasil Jacob Guinsburg, não só introduz o tema com brilho e clareza, como proporciona uma visão profunda deste universo, de sua riqueza e da extensão de suas possibilidades, em ensaios de eminentes pesquisadores acadêmicos.

Fonte: Editora Perspectiva