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20.12.10

Pousada em Draguseni

Nossa pousada em Draguseni foi objeto de um belo artigo publicado no número 107, edição de novembro de 2010, da renomada revista romena de arquitetura Igloo, assinado por Reka Tugui Rozsnyai, com fotografias de Serban Bonciocat, que pode ser acessado aqui. Abaixo, segue a tradução do artigo originalmente em romeno:
 
A moradia rural era sinônimo, até há pouco tempo, de tradição, com o perpetuamento de certos modelos consagrados. Tais modelos, aceitos por comunidades inteiras, eternizaram-se de uma geração para a outra sem inovações significativas, adaptando-se apenas às condições particulares de cada família. Recentemente, entretanto, o ambiente rural da Romênia tem conhecido uma transformação cada vez mais acelerada, uma época em que os modelos do passado vêm perdendo terreno em favor de exemplos alheios e, na maior parte das vezes, agressivos e estridentes. A maior parte dos habitantes do meio rural hoje preferem materiais modernos, como por exemplo o concreto, blocos de concreto, PVC, inox ou vidro, existindo porém casos isolados que remetem ao passado, assim como aconteceu com o brasileiro Fernando Klabin, que construiu, em letra e espírito, uma casa tradicional no encantador vilarejo de Draguseni, na província de Suceava.
  
Tudo partiu do desejo de oferecer aos visitantes da Moldávia a mais autêntica atmosfera possível, e do fascínio que Fernando Klabin tem pelo folclore romeno. O lugar não foi escolhido por acaso: sua esposa, oriunda de Suceava, detinha um vasto lote de terra em Draguseni, que no passado pertencera a seus avós paternos. De posse do terreno, o casal Klabin decidiu construir ali uma casa, exatamente como outrora costumavam fazer todos os habitantes da região. Como modelo para a nova construção, foi escolhida uma residência das vizinhanças, de proporções harmoniosas e detalhes notáveis. Para o exterior, eles seguiram de perto as suas proporções e a sua estética e, no que toca ao interior, apelou-se à compartimentação clássica da casa tradicional. Assim, a habitação apresenta um longo aposento no meio, do qual se acessam diretamente os quartos situados em ambos os lados. Como o telhado da parte de trás da casa é inclinado, exatamente como era a praxe de outrora, na parte de dentro foi possível decorar outros dois quartos. A área do aposento central ficou aberta até o fundo, onde foi instalada uma pequena cozinha de apoio para os turistas. A única modificação imposta à repartição clássica do espaço foi o corredor de acesso aos banheiros, para que eles não comunicassem diretamente com a parte central da casa. Os banheiros são extremamente modernos, no intuito de oferecer aos turistas todo o conforto necessário. Ademais, tendo em vista que o banheiro tradicionalmente não fazia parte da habitação rural, esse espaço não tinha como ser organizado de maneira tradicional.

Não só a aparência da casa de Draguseni respeita a tradição, como também sua estrutura e seu material. Ela foi inteiramente construída com materiais e técnicas tradicionais, algo nada simples de realizar, pois, assim como afirma o proprietário, o processo “envolveu uma batalha prolongada com a mentalidade das pessoas”. Os habitantes locais não eram capazes de compreender por que alguém desejaria construir uma casa assim como faziam seus avós, justamente hoje em dia, com inúmeras alternativas à mão. Só depois de terem substituído umas três equipes, eles conseguiram concluir o projeto, com toda a estrutura de vigas de madeira dispostas em dois estratos e recheada com uma mistura de argila com palha. Outro material que criou problemas foi a telha de madeira para o telhado da casa. Após buscas prolongadas, eles conseguiram encontrar em Bogdanesti, um vilarejo das redondezas, uma viúva que ainda mantinha as telhas guardadas por seu marido há aproximadamente 20 anos. No que concerne ao sistema de aquecimento, a casa foi dotada com fornos tradicionais de lenha, construídos por um artesão do vilarejo de Radaseni, que, por sua vez, foi difícil de encontrar. Para a sua execução, os proprietários contaram com os conselhos de uma amiga do Museu do Vilarejo de Suceava, que lhes desenhou a forma e os nichos. Todos os elementos em madeira, inclusive a varanda, cujo desenho foi inspirado no da casa dos avós da Senhora Klabin, foram executados, num único inverno, por um artesão carpinteiro de Suceava.

A intenção do proprietário da casa era a de essencialmente criar um espaço especial apenas por meio do modo de construir, para em seguida populá-lo com diversos objetos destinados a evocar a História local. Cada objeto da casa tem sua própria história, todos tendo sido reunidos ao longo do tempo, seja junto a parentes ou amigos, seja adquiridos em diversas feiras. Eles são complementados, de maneira feliz, por alguns elementos de madeira resgatados da casa dos avós, elementos que decoravam outrora a varanda e as janelas da antiga casa, e que agora foram colocados do lado de dentro, por cima da porta de entrada e de algumas janelas. Cumpre lembrar o gesto do vizinho que, ao visitar pela primeira vez a casa camponesa do brasileiro, ofereceu ao casal Klabin alguma peças antigas de seu patrimônio. Assim, não surpreende o fato de que os moradores locais tenham se acostumado a chamar esse lugar de “museu”.

As mesmas pessoas que no início punham obstáculos ao processo de resgate da arquitetura camponesa empreendido pelo casal Klabin em Draguseni ficaram encantadas com o resultado ao verem a casa concluída, o que nos garante ainda existir esperança para a imagem do vilarejo tradicional romeno.

17.12.10

Vala comum perto de Iasi

Arqueólogos descobriram uma vala comum com corpos de judeus mortos por tropas romenas durante a Segunda Guerra Mundial, disse o Instituto Elie Wiesel.

Citando testemunhas, o instituto disse que mais de cem judeus - homens, mulheres e crianças - foram sepultados no local, numa floresta próxima à aldeia de Popricani, no nordeste romeno.

Uma das testemunhas viu os judeus sendo alvejados, porque os soldados acharam que ele próprio fosse judeu e pretendiam alvejá-lo também, disse a filial romena do Instituto Elie Wiesel em nota. Ele só foi poupado quando os soldados se convenceram de que era cristão ortodoxo.

Wiesel, ganhador do Nobel da Paz, liderou uma comissão internacional que declarou em 2004 que entre 280 mil e 380 mil judeus romenos e ucranianos foram mortos na Romênia e em áreas controladas pelo governo do país durante a Segunda Guerra Mundial. A Romênia foi aliada da Alemanha nazista no início do conflito.

Muitos foram mortos em pogroms como o de 1941, que vitimou quase 15 mil judeus na cidade de Iasi, perto da vala recém-descoberta. Outros morreram em campos de trabalho forçado ou trens da morte.

Os arqueólogos já encontraram 16 corpos, segundo os promotores que estão investigando o caso. Esse é o segundo local desse tipo descoberto desde a Segunda Guerra Mundial. Em 1945, 311 corpos foram exumados de três valas comuns em Stanca Roznovanu, na mesma região.

A Romênia só recentemente começou a discutir o extermínio de judeus. Até 2003, o país não admitia que isso houvesse ocorrido.

Depois que a Romênia trocou de lado na guerra, em 1944, o regime comunista pouco fez para investigar as mortes, e os governos pós-1989 também mantiveram sigilo sobre o assunto.

A Romênia tinha 750 mil judeus antes da guerra. Hoje restam no máximo 10 mil.

Fonte: artigo Romênia acha vala comum com corpos de judeus mortos na II Guerra, publicado pelo G1 Portal de Notícias da Globo em 05/11/2010.

16.12.10

Delicatéssen romenas

Na edição no. 134 (dezembro de 2010) da revista Saveur acabou de ser publicado um artigo assinado por David Sax, com fotos de Landon Nordeman, sob o título Roots of Deli - no qual o autor, em Budapeste e Bucareste, sai em busca das origens autênticas de comida judaica de hoje.

Fernando também contribuiu para este trabalho, orientando e apoiando Sax e Nordeman através de sua jornada gastronômica pela Romênia. Bom apetite!

7.12.10

O imaginado e o real

O boletim no. 43 (outubro de 2010) do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro publicou o artigo, tema da capa daquela edição, intitulado Bessarábia - Havia o cenário imaginado, fomos à procura do cenário real, de autoria da psicanalista Tatiana Serebrenic, quem tive o prazer de guiar, juntamente com seu marido Jayme Serebrenic, em maio de 2010, pela Romênia e República Moldova.

Seu relato sincero, tanto objetivo como subjetivo, denota a inevitável complexidade na abordagem de uma realidade tão íntima do coração e tão distante no tempo e na geografia. A dicotomia entre os relatos de família com sua descrição de um passado pitoresco e a realidade atual - fruto de indizíveis crueldades históricas - acaba se revelando agridocemente enriquecedora para o observador perspicaz.