Seu guia brasileiro exclusivo na Europa Oriental

27.1.09

Da Transilvânia a Minas Gerais

De Halmeu a Belo Horizonte (Belo Horizonte, edição do autor, 2003) de Henry Katina, é um livro emocionante. Ao descrever sua trajetória desde a cidadezinha transilvana de Halmeu, na Romênia, até Belo Horizonte, o autor nos proporciona uma síntese da vida das comunidades judias do Leste europeu, de Halmeu especificamente, dos anos que vivenciou o esfacelamento de sua família e, em âmbito mais geral, da Europa, na II Grande Guerra. Além desse recorte aborda o período de desenvolvimento econômico do pós-Guerra vividos na Suécia, no Canadá e no Brasil.

Dividido em quatro grandes capítulos e pequenos subcapítulos, De Halmeu a Belo Horizonte conta a história de Henry, um menino de 13 anos, que, na noite de Pessach, tem a vida em família interrompida pela perseguição do regime nazista. Nessa luta, perde o pai, a mãe, o irmão caçula de 9 anos, os dois irmãos mais velhos, o cunhado e a sobrinha recém-nascida.

Dias depois da Páscoa, os judeus de Halmeu, juntamente com a família Katina, começaram a ser transferidos de modo definitivo para o gueto da cidade de Nagyszölös (atual Vynohradiv, na Ucrânia), onde começa o seu périplo de deportações, que só terminará em Bergen-Belsen, com a libertação do campo realizada pelas tropas inglesas.

Fonte: artigo De Halmeu a Belo Horizonte: Um Testemunho da Shoah no Brasil, de Raquel Teles Yehezkel, publicado pelo Arquivo Maaravi

18.1.09

Kaputt, de Curzio Malaparte

Quando o jornalista e escritor italiano Curzio Malaparte começou a escrever suas crônicas pessoais sobre a guerra no velho continente, que dariam origem ao livro Kaputt (Bertrand Brasil, 2000), a Alemanha nazista lançava-se à ofensiva sangüinária sobre o território soviético. Naquele terrível verão europeu, em junho de 1941, Kurt Erich Suckert, nome de batismo de Malaparte, era correspondente, na Ucrânia, do jornal italiano Corriere della Sera, e ostentava o salvo-conduto da temida cruz gamada que o autorizava a transitar entre as barbaridades perpetradas pelas tropas germânicas.

Envergando a farda de oficial italiano, Malaparte cobriu os combates das forças do Eixo nas frentes orientais, misturando-se a soldados, prisioneiros e guerrilheiros em cidades e aldeias arrasadas pelos canhões e bombardeios. Transitou pelas ruas do Gueto de Varsóvia, apinhadas de gente maltrapilha e amedrontada; presenciou o pogrom na cidade de Iasi, na Romênia, onde em uma única noite foram chacinados mais de 2 mil judeus; e conheceu as prisioneiras do bordel militar de Soroca, na Bessarábia, meninas de famílias judaicas, bonitas e inocentes, capturadas e exploradas pelos nazistas.

Testemunha ocular da chacina de Iasi, Malaparte também se transformou em personagem e inspirou o escritor norte-americano radicado na França, Samuel Astrachan, a escrever a obra Malaparte in Jassy, publicada em 1989, onde o autor rememora os passos do jornalista, antes e durante o pogrom. Ainda sobre a tragédia de Iasi, o diretor do Instituto do Congresso Judaico Mundial de Jerusalém, professor Laurence Weinbaum, transcreveu trechos de Kaputt em seu trabalho A Banalidade da História e da Memória: A Sociedade Romena e o Holocausto (2006). Especialista em assuntos do Leste Europeu, Weinbaum cita o testemunho de Malaparte ao cobrar do governo da Romênia o reconhecimento oficial de sua participação, ainda que tardio, na matança de 15 mil judeus durante a ocupação nazista.

Fonte: artigo Da Polônia, com Amor, de autoria de Sheila Sacks e publicado em 6 de maio de 2008 no CMI Brasil.