Seu guia brasileiro exclusivo na Europa Oriental

7.12.08

Secureni

A cidade de Secureni (Târgu Secureni, Sokyriany, Sokiriany, Sekuryany, Sekurian, Sikuran, Sekureni, Sekuron, Sokorone, Sekurjany, Sokiryany, Sekiryani), na Bessarábia setentrional, encontra-se atualmente na província ucraniana de Tchernovitz.

Em 1904, a localidade somava 783 casas e 4166 habitantes, dos quais 2590 eram judeus. Às vésperas da II Guerra Mundial, sua população judaica era de 4216 habitantes. Conforme o recenseamento de 2007, sua população é formada por 9683 habitantes.

O primeiro documento que a menciona data de 1666. Até 1711, Secureni fez parte do Principado da Moldávia. De 1711 a 1812, pertenceu à província otomana de Hotin e, em seguida, à Bessarábia russa até o ano de 1918. De 1918 a 1944 - com uma breve pausa durante a II Guerra Mundial, quando a zona foi invadida por tropas soviéticas posteriormente rechaçadas pelos romenos com o apoio nazista - , Secureni foi capital do distrito de mesmo nome, abrangendo 23 vilarejos, na província romena de Hotin (mapa ao lado), e tendo constituído importante centro comercial com agência postal, agência telefônica, liceu particular, tribunal, hospital público e hospital israelita próprios.

No fim de julho de 1941, inaugurou-se em Secureni um campo de concentração transitório, onde foram inicialmente internados judeus originários sobretudo de Hotin. Durante os primeiros dias, cerca de 35% dos prisioneiros morreram por terem se alimentado com cereal cru, embora mais tarde essa estatística tenha caído para um décimo. Os judeus aprisionados em Secureni, contudo, encontravam-se numa posição melhor do que os do campo de Edinet, os quais, originários sobretudo da Bucovina, já haviam sido saqueados durante a viagem. Os dois campos somavam juntos quase 21 mil prisioneiros.

Interpretações aparentemente abusivas ou equivocadas de ordens superiores por parte de um certo oficial romeno teriam custado a morte de 500 judeus que foram deportados do campo transitório de Secureni, em outubro de 1941, para o campo de extermínio de Cosauti, na Transnístria administrada pelos romenos.

Com o fim da Guerra, Secureni integrou a URSS, até o seu esfacelamento e a conseqüente proclamação da república da Ucrânia em 1990.

Sugestão: Portal da Cidade de Secureni (em ucraniano)

28.11.08

Vilna: Capital Européia da Cultura em 2009

A Lituânia comemora, em 2009, mil anos da primeira menção histórica do seu nome. Em 14 de fevereiro de 1009, no manuscrito medieval dos Anais de Quedlinburg (vide foto abaixo), encontra-se mencionado o assassinato de um certo arcebispo, São Bruno, na fronteira dentre a Lituânia e aquilo que viria a se tornar a Rússia. Por conta dessa comemoração, em 2009, Vilna receberá o título de Capital Européia da Cultura.

Mil anos atrás, um caráter profundamente militar perpassava a sociedade lituana. Seus habitantes construíram centenas de castelos de madeira para se protegerem dos ataques dos cavaleiros teutônicos e manterem sua independência.

Esses castelos não foram, entretanto, sua única modalidade de defesa. Em meados do século XIV, os artesãos alemães começaram a construir os primeiros muros de pedra e tijolo, que podem ser vistos ainda hoje, como por exemplo o castelo Gediminas de Vilna, de onde se tem uma visão panorâmica da capital lituana. O centro velho, parte do patrimônio mundial da UNESCO, é um arco-íris de estilos arquitetônicos: o renascimento italiano, o barroco e sobretudo o gótico influenciaram a silhueta dos prédios, muitos deles modelados conforme o espírito bizantino.

Embora a Lituânia tenha sido um dos últimos países europeus a se converter ao Cristianismo, o centro histórico da capital soma hoje em torno de 40 igrejas. A mais visitada delas é a Igreja de Santana, que Napoleão, durante a ocupação de Vilna em 1812, tencionou desmontar e levar para Paris.

A História, por outro lado, não foi nada generosa com as sinagogas. A capital lituana, conhecida no passado como Cidade das Cem Sinagogas ou Jerusalém da Lituânia, tem hoje um único templo reservado aos judeus. O resto foi destruído durante a II Guerra Mundial, quando centenas de milhares de judeus lituanos pereceram.

20.11.08

A vinda dos primeiros bessarábios

A história da imigração rural dos judeus para o Brasil, no período republicano, começou com a iniciativa do Barão Maurício de Hirsch, francês de origem judaica, banqueiro em Bruxelas. Com a idéia de um projeto que ajudasse os judeus a se transferirem para terras mais pacíficas, imunes à intolerância religiosa ou étnica, o Barão de Hirsch criou, em 1891, uma organização para a instalação de colônias agrícolas em diversos países: a Jewish Colonization Association (conhecida como JCA). Foi esta organização que financiou a emigração dos judeus russos para o Brasil e Argentina.

O Barão Hirsch teve o apoio do capital de banqueiros e filantropos judeus como Lord Rothschild, Barão Goldsmid, Ernest J. Cassel, F. D. Mocatta, D. H. Goldschmidt, Salomão Reinach, Benjamin L. Cohen e o Barão de Philippson.

Para estabelecer as colônias agrícolas, a JCA adquiriu, em 1903, uma área de 5.767 hectares em Santa Maria, que foi a primeira colônia judaica no Brasil. Essa colônia foi chamada de Philippson, em homenagem a Franz Philippson, vice-diretor da JCA e presidente da Compagnie Auxiliaire de Chemins de Fer au Brésil, que atuava no Rio Grande do Sul.

Em Philippson, a partir de 1904, instalaram-se os primeiros imigrantes judeus, oriundos da Bessarábia – região russa entre os rios Prut e Dniester, banhada pelo mar Negro. Na nova terra, os imigrantes receberam lotes de 25 a 30 hectares, com uma residência, instrumentos agrícolas, duas juntas de bois, duas vacas, carroça, cavalo e sementes, a um preço de cerca de cinco contos de réis, a serem pagos em prazos de 10 a 15 anos.

Pouco a pouco, chegaram outros imigrantes e a área territorial, com as novas aquisições da JCA, se estendeu de Philippson a Erebango a e Quatro Irmãos, regiões localizadas no Alto Uruguai, próximos a Marcelino Ramos, na fronteira com Santa Catarina.

Curiosidades sobre a Estrada de Ferro Jewish Colonization - visível no mapa acima - no Rio Grande do sul, leia aqui.

Fonte: artigo Maurício Tragtenberg: Identidade e alteridade, de Antonio Ozaí da Silva

15.11.08

Berenstein

A romena naturalizada brasileira Pola Berenstein, 80 anos, que mora com a família no Recife, foi outra entrevistada [pela Fundação Shoah]. Filha de judeus, ela foi levada ao campo de concentração de Transnístria, antigo território romeno. “Lembro da noite em que começou a guerra. Minha irmã me disse: ‘Acorda, temos que fugir.’ Passei três anos e meio num campo de concentração, sem roupa, sem comunicação, sem nada”, relata Pola, com memória invejável.

Fonte: artigo Arquivo do Horror, de autoria de Kátia Mello, publicado em 15 de fevereiro de 2002 pela IstoÉ Online.

14.11.08

Fux

Transcrevo, a seguir, fragmento de texto autobiográfico de autoria do Ministro Luiz Fux, do Superior Tribunal de Justiça:

Meu nome completo é Luiz Fux. Nasci no dia 26 de abril de 1953, no Rio de Janeiro. Sou carioca da gema, como se dizia antigamente. Minha mãe é Lucy Fux. Meu pai chama-se Mendel Wolf Fux, imigrante romeno, brasileiro naturalizado. Meu pai é advogado. Ele era contador e, já depois da família crescida - eu tenho mais duas irmãs - resolveu fazer o curso de Direito, tendo o concluído com uma certa idade. Atua na área de contencioso Cível, normalmente em causas adstritas às justiças locais. Meu pai nunca advogou lá no Tribunal Superior. A minha família é de exilados de guerra, da perseguição nazista. Tenho origem judaica. Meu avô e a minha avó se reencontraram no Brasil, após três anos separados. A minha avó conseguiu vir primeiro, exilada, depois é que veio o meu avô. Chegando aqui, meu avô exerceu uma função bastante humilde. Ele vendia roupas para pessoas de classe baixa, nas populações mais carentes. Meu avós morreram com uns 92 anos. Eles foram muito gratos ao fato de terem sido bem acolhidos no Brasil. Tanto que o meu avô também assumiu uma entidade que era casa de acolhida de idosos, pessoas mais velhas desvalidas. Já minha avó era presidente de uma entidade que acolhia crianças abandonadas, o Lar das Crianças Israelitas.

Fonte: Faculdade de Direito da UERJ

Enxadrista romeno-brasileiro

O enxadrista brasileiro Alexandru Sorin Segal nasceu em Bucareste, na Romênia, em 1947. Formou-se em Economia pela Faculdade de Ciências Econômicas de Bucareste em 1970 e chegou ao Brasil em 1971, radicando-se em São Paulo. É Mestre Internacional desde 1977; árbitro internacional desde 1982; foi campeão brasileiro absoluto 3 vezes; campeão paulista absoluto 4 vezes; representante olímpico titular 5 vezes. Participou de mais de 900 Torneios Nacionais e Internacionais e é autor de Fundamentos de Tática, publicado em 1982 pela Livraria do Clube de Xadrez.

10.11.08

Judeus russos no Recife

Reproduzo, abaixo, fragmento do artigo Judeus celebram 100 anos no Estado, de autoria de Daniel Leal, publicado em 31 de agosto de 2008 pela Folha de Pernambuco:

Este ano está se comemorando os cem anos da presença judaica em Pernambuco. Na verdade, esse centenário é o da terceira leva judaica que chegou ao Nordeste brasileiro, já que os judeus encontram-se presentes na região desde 1503, com a sua chegada à ilha de Fernando de Noronha.

A comunidade judaica tem importância fundamental na história do Recife [na foto de ca. 1885, a Rua dos Judeus]. Na época da dominação holandesa, uma grande quantidade de judeus se estabeleceu no local. A formação da primeira comunidade judaica no Estado ocorreu no início do século 17, graças à liberdade religiosa do governo de Maurício de Nassau, época em que foi fundada, inclusive, a Primeira Sinagoga das Américas.

Com as perseguições aos judeus no século 20, novamente Recife se transformou em uma possibilidade de liberdade para o povo judaico. A partir do início do século 20, um grupo de imigrantes formou no Estado uma pequena comunidade, originando a que persiste até hoje, plenamente integrada, atuante social, cultural e economicamente.

E eles vieram de longe: o czar da Rússia, precisando responsabilizar alguém pela situação de calamidade em que vivia o povo russo, acabou conseguindo culpar os judeus pela desarmonia do país. “A atual comunidade judaica foi formada por refugiados vindos da Rússia. No tempo do Czarismo, a situação era difícil. Era grande a pobreza entre a população, os judeus não podiam estudar nem trabalhar e ainda eram mortos, vítimas do preconceito”, contou a presidente do Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco, Tânia Kaufman.

Anete Hulak é, hoje, um símbolo de todo o desenvolvimento judaico em Pernambuco. Aos 106 anos, lúcida, ela é a pessoa mais antiga da comunidade judaica do Estado. “Invadiram a Bessarábia (atual Romênia) e tivemos que fugir. Em 1924, viemos para o Brasil. No começo, ainda mantínhamos correspondência com os amigos que ficaram lá, mas, depois, com a guerra, perdemos o contato. Tive problemas com a língua, isso é natural. Eu vim porque tinha duas irmãs aqui. Agora, sou naturalizada brasileira”.

3.11.08

A cabala pelo romeno Moshe Idel

A escolha de Cabala, Cabalismo e Cabalistas como obra inicial da Coleção de Estudos Judaicos, uma parceria da editora Perspectiva de São Paulo e do Centro Internacional para o Ensino Universitário da Civilização Judaica, da Universidade Hebraica de Jerusalém, não vem por acaso.

Neste livro, organizado por Moshe Idel, filósofo israelense nascido em 1947 na cidade romena de Târgu Neamt, reúnem-se, em caleidoscópio e sob o prisma cabalístico, filosofia, religião, pietismo e ritual, a partir de textos relevantes da especulação mística no judaísmo, que remontam ao fim da Antigüidade e à baixa Idade Média, chegando aos dias atuais.

O presente volume, editado e traduzido neste ano de 2008 pelo bessarábio radicado no Brasil Jacob Guinsburg, não só introduz o tema com brilho e clareza, como proporciona uma visão profunda deste universo, de sua riqueza e da extensão de suas possibilidades, em ensaios de eminentes pesquisadores acadêmicos.

Fonte: Editora Perspectiva

26.10.08

Cemitério judaico vandalizado em Bucareste

Vândalos derrubaram mais de cem lápides num cemitério judaico de Bucareste, provocando prejuízos de quase 1 milhão de dólares, disseram fontes da comunidade judaica da Romênia na sexta-feira.

O ataque ao cemitério, que foi aberto no século 20 e contém túmulos de soldados judeus e vítimas do Holocausto, ocorreu durante o feriado judaico do Simchat Torah, em 24 de outubro.

"É pior do que em 1977, quando um terremoto destruiu muitas lápides", disse o líder comunitário Aurel Vainer.

A Romênia ainda tenta se conciliar com o seu papel no extermínio de judeus pelos nazistas durante a 2a Guerra Mundial. O país negou envolvimento no Holocausto, até que uma comissão internacional, presidida pelo Nobel da Paz Elie Wiesel, determinasse, em 2004, que as autoridades locais haviam matado até 380 mil judeus em territórios sob seu controle.

Em 1940, sob o regime pró-nazista do marechal Ion Antonescu, a Romênia se tornou aliada da Alemanha, mas mudou de lado ainda antes do final da guerra.

Fonte: O Estado de S.Paulo

25.10.08

Guinsburg

Jacob Guinsburg é um crítico de teatro, ensaísta e professor brasileiro, atual diretor-presidente da Editora Perspectiva. Nascido em 1921 em Rîşcani, na Bessarábia (hoje território da República da Moldávia), é considerado um dos grandes teóricos do teatro brasileiro, sendo também tradutor e editor de mais de uma centena de importantes obras de estética, teoria e história das artes e do teatro, tendo inúmeros artigos publicados no Suplemento Literário de O Estado de S. Paulo. É o mais importante especialista em teatro russo e em língua iídiche no Brasil. Emigrou para o Brasil com seus pais em 1924, com três anos de idade, onde, anos depois, integrou-se ao intenso processo de movimentação política e intelectual no país, acompanhando de perto a renovação do teatro brasileiro. Escreveu na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro sobre literatura brasileira, judaica e internacional, tornando-se colaborador constante em revistas da comunidade judaica com artigos no campo das artes, da literatura e, inclusive, da crítica teatral.

Fonte: Wikipedia

26.9.08

A Bessarábia é aqui

Reproduzo, abaixo, com o gentil acordo do autor, o artigo A Bessarábia é aqui, escrito pelo jornalista e consultor de empresas de comunicação Eduardo Tessler, de Porto Alegre, e publicado em 13 de agosto de 2008 no Terra Magazine:

Samuel Vainer, grande jornalista e dono do jornal A Última Hora, morreu jurando ter nascido no Brasil. No bairro do Bom Retiro, em São Paulo, mais precisamente. Nem em seu livro de memórias ele admitiu ter chegado ao Brasil no colo de sua mãe, quando já tinha dois anos.

Vainer era um gênio. Sabia que admitir o fato de não ter nascido no Brasil era nitroglicerina pura para seus adversários. Carlos Lacerda, o Corvo, tentou de todos os modos comprovar seu local de nascimento, para - amparado em uma esdrúxula lei - retirar a licença para a Última Hora funcionar. Samuel Vainer fez história ao entrevistar Getúlio Vargas em seu exílio voluntário, na Fazenda do Itú, em São Borja (RS). A confissão de Vargas foi o estopim para sua eleição na mais surpreendente campanha política que o Brasil já viveu, em 1950.

Meu avô José Tessler foi um selfmade-man de sucesso. Começou vendendo tecidos de porta em porta em Uruguaiana (RS). Depois evoluiu e comprou uma bicicleta. Os bons ventos o fizeram progredir até adquirir uma moto. O salto para uma pequena loja foi rápido. O velho José se aposentou como dono de um importante comércio em Uruguaiana "com cinco vitrines", orgulhava-se, e de uma fábrica de móveis.

José Tessler era judeu como Samuel Vainer. Nasceu na Bessarábia como Vainer. E morreu jurando ter nascido no Brasil, exatamente como o jornalista.

Ser imigrante no início do século passado, em um Brasil em crescimento, não era fácil. Havia barreiras de idioma, de cultura, de hábitos, de gastronomia. A Bessarábia é a região entre Ucrânia e Moldávia, onde o frio castiga de seis a oito meses por ano a terra e a temperatura chega a 30 graus negativos. O Brasil é tropical. O mais curioso nessa história é entender os motivos que fizeram Samuel e José mentirem uma vida inteira. Se Vainer falava em ter nascido no Bom Retiro, Tessler não titubeava e até mostrava a casa onde supostamente nascera em Porto Alegre. A certidão de nascimento atestava sua versão, mesmo tendo sido feita quando ele já tinha cinco anos de idade. O sentimento patriótico aparece nas pessoas quando elas menos esperam. Brasileiros que jamais tomaram caipirinha em seu país disputam garrafas de cachaça na Europa, como se fosse uísque 12 anos. Ser brasileiro é o que vale.

Nos Jogos Olímpicos de Pequim a graça é ser brasileiro. Quando o judoca Tiago Camilo subiu ao pódio para receber sua medalha de bronze, não havia nenhum sinal de bandeiras da Alemanha ou da Coréia do Sul (ouro e prata) na platéia. Mas o verde-amarelo estava por todas as partes. É o orgulho brasileiro, que Samuel e José também tinham, mesmo nascidos na Bessarábia.

O poeta Mário Quintana dizia que a mentira era uma verdade que tinha esquecido de acontecer. No caso de Samuel e de José, a ordem cronológica impedia de acontecer. Não bastava a vontade. Mas por acaso Samuel e José eram menos brasileiros que qualquer cidadão nascido na terra brasilis? Certamente não. A Bessarábia é aqui. Há brasileiros defendendo a Geórgia em Pequim. Outros jogaram por Tunísia, Croácia, Alemanha, Turquia e Portugal em recentes torneios. As fronteiras estão cada vez mais tênues. A identidade cultural superou a etnia. A Bessarábia é o Bom Retiro e é Uruguaiana.

1.9.08

Pescador romeno de pérolas brasileiras

Leon Barg, filho de judeus romenos, nasceu no Recife e mora em Curitiba (onde conheceu Eva, com quem viria a se casar três anos depois) desde 1954. Ainda na capital pernambucana, aos 14 anos, comprou seu primeiro disco, com, em suas próprias palavras, “o primeiro cruzeiro que ganhei”. O disco era de Francisco Alves, mas Leon não tinha gramofone e o ouvia na casa de amigos. Em 1987 ele criou o selo Revivendo Músicas, que tem se dedicado a lançar em CD gravações da música brasileira da primeira metade do século XX, com destaque para as décadas de 30 e 40, os chamados “anos dourados” da nossa música popular. Hoje a coleção conta com 33 mil discos (66 mil títulos, já que os antigos 78 rpm tinham uma faixa de cada lado), é a base dos lançamentos do selo, e que está espalhada por vários cômodos e até um dos banheiros da sede da Revivendo. De cada disco, feitos à época de material quebradiço e cujas cópias apresentam por vezes defeitos, ele procura ter dois ou três exemplares, dizendo que “quem tem um, não tem nenhum”. Leon e sua equipe (Fabrício e Giovana) fazem os discos passar por um sistema de “limpeza” do som, a fim de recuperá-los e remasterizá-los para serem lançados em CD.

Por ajudar na compreensão da essência da nossa identidade cultural por meio da memória da canção popular é que o trabalho de Leon Barg e da Revivendo tem importância fundamental. Importância que cresce quando se leva em conta que a manutenção e a divulgação desse acervo vêm sendo feitas sem qualquer tipo de ajuda oficial, graças principalmente ao arrojo de um único indivíduo, que conta com suas duas filhas e seis funcionários, além de pequenas colaborações de amigos que Leon tem feito ao longo de suas andanças por um país que ele ajuda, com seu trabalho, a redescobrir.

Fonte: artigo O Pescador de Pérolas, publicado pela Carta Capital

30.8.08

Estabelecendo as fronteiras

Uma das primeiras dificuldades da pesquisa genealógica é localizar geograficamente a origem da família. Tendo sido a Europa Oriental continuamente palco de tantos conflitos militares, é comum que se instale certa confusão.

Considero que o mapa ao lado (clique nele para ampliá-lo) consegue esclarecer mais do que qualquer texto que procure estabelecer as fronteiras da Bessarábia, Moldávia e Bucovina.

O mapa apresentado corresponde integralmente ao território da Moldávia histórica, do tempo em que era um Principado, até o século XIX, quando, ao unir-se com a Valáquia, formou a Romênia.

O que está em azul faz parte, desde o fim da II Guerra, da Romênia (Moldávia e Bucovina meridional). O que está em rosa faz parte hoje da Ucrânia (Bucovina setentrional, Bessarábia setentrional, Herta e Budjak) e o que está em verde constitui o território da atual República Moldova.

Como se vê, a Bessarábia propriamente dita é formada pela zona verde e duas zonas de cor rosa, ao norte e ao sul, territórios desprendidos por Khrushchev da então RSS Moldova e transferidos para a RSS Ucrânia. A Bucovina (província austríaca entre 1775 e 1918) encontra-se hoje dividida ao meio entre Romênia e Ucrânia. A zona hachurada com verde corresponde à autoproclamada república separatista da Transnístria, zona de grande tensão geopolítica entre a Rússia e a OTAN, ao passo que a zona hachurada com rosa, atual parte do território ucraniano, corresponde à antiga RSS Autonôma Moldava (1924-1940), complexa manobra da geopolítica stalinista.

4.7.08

Judeus romenos maçons em Aracaju (2)

Outro romeno, comerciante de móveis em Aracaju, foi Maurício Stern, filho de Abraão Elias e Clara Stern, nascido em 17 de abril de 1896. Declarou-se de religião israelita, quando foi entrou para a Maçonaria [de Aracaju, na foto], em 13 de setembro de 1941, época em que os judeus sofriam grande perseguição dos niponazifascistas. Com Isaac Chapermann abriu a loja Mobiliaria Chic, para expor e vender móveis que fabricava, à eletricidade, à rua de João Pessoa, 119/121. A Mobiliaria Chic era anunciada como “a maior e a melhor do Estado.”

Maurício Stern morreu no Rio de Janeiro (Jacarepaguá), em 2 de fevereiro de 1973.

Fonte: Artigo Estrangeiros em Aracaju, do historiador Luiz Antônio Barreto, publicado em 09 de maio de 2005 pelo Portal Infonet.

Judeus romenos maçons em Aracaju

Saul Kaminsky, Elias e Marcos Roitman, Maurício Lerner, todos romenos, dominavam o ramo de móveis, com fabricação própria, ou vendendo produtos do Paraná e de Santa Catarina, considerados os melhores do Brasil.

Saul Kaminsky nasceu na Bessarábia, Romênia, em 16 de outubro de 1905. Casado com Lúcia Kaminsky, pai de Joel Kaminsky, nascido em Aracaju em 2 de abril de 1930, ingressou na Loja Cotinguiba [da Maçonaria de Aracaju] em 6 de outubro de 1934.

Marcos Roitman nasceu na mesma Bessarábia, na Romênia, em 25 de outubro de 1898, iniciando-se na Maçonaria já casado com Paulina Roitman, em 26 de setembro de 1940.

Elias Roitman [foto], procedente do mesmo lugar da Romênia, nascido em 8 de dezembro de 1905, entrou para a Loja Cotinguiba em 21 de outubro de 1939.

Marcos Roitman era proprietário de A Mobiliadora, fábrica de móveis situada na rua de João Pessoa 29, enquanto Elias Roitman sucedia Isaac Udermann, à frente da Casa Colombo, nos endereços novos de rua de João Pessoa 73 e 199 (antes era na mesma rua, no número 81). Era uma fábrica movida a eletricidade, como anunciava.

Maurício Lerner nasceu na Romênia em 28 de agosto de 1913, era solteiro quando iniciou-se entre os maçons, em 13 de janeiro de 1940. Comerciante, era sócio de José Chapermann na Mobiliária Brasil, na rua Inácio Barbosa 156, que representava em Sergipe os colchões Probel.

Fonte: Artigo Estrangeiros em Aracaju, do historiador Luiz Antônio Barreto, publicado em 09 de maio de 2005 pelo Portal Infonet.

3.7.08

Bitelman

Transcrevo, a seguir, fragmentos do artigo Viagem à terra de meu pai, de autoria de Flavio Mendes Bitelman, publicado no número 16, ano IV, da Revista 18, de junho/julho/agosto de 2006, do Centro da Cultura Judaica. Na foto, a família Bitelman em Kishinev, em 1926.
De tanto ver os nomes de ancestrais da Bessarábia, a idéia de fazer uma viagem ao passado e conhecer a terra de meus quatro avós e de meu pai foi se enraizando em mim. Uma viagem à região – a Bessarábia foi disputada pela Rússia e pela Romênia, hoje é parte da Moldova – vinha sendo ensaiada desde 2002. O filme Uma Vida Iluminada, baseado no romance Tudo se ilumina, do norte-americano Jonathan Safran Foer, a que assisti há alguns meses, deu o impulso que faltava. Umas três semanas depois de assistir ao filme recebia um formulário do governo da Moldova, registrado e carimbado, com um convite para visitar o país.

Ao chegar a Kishinev, depois das burocracias de rotina, consegui meu visto e passei pela fila dos passaportes. Lá fora, os primos Ilusha e Senia aguardavam. Nos reconhecemos imediatamente e nos abraçamos. Foi muito emocionante. Antes mesmo de irmos ao hotel, eles nos guiaram pelas ruas de Kishinev e foram me mostrar a rua onde meu pai morava. O número exato, ninguém mais sabia, mas sentir a rua onde meu pai brincava, visitava seus vizinhos, passeava, ia trabalhar, embaixo de copas de árvores frondosas, foi muito forte. À noite fomos jantar num delicioso restaurante. O mais importante era nos conhecermos melhor, conversar, trocar presentes, ver fotos da família – e também beber o conhaque e o excelente vinho da própria Moldova.

No dia seguinte logo cedo, após o café, nosso destino foi o cemitério de Kishinev, local muito bonito e agradável, com muitas arvores, uma zeladora simpática e competente que logo procurou um grande livro onde constam os nomes das pessoas sepultadas ali. Ela encontrou dois Bitelmans: um era Michel Bitelman, tio de meu pai, falecido em 1912, de quem meu pai recebeu o nome para homenageá-lo e perpetuar sua memória. E o outro túmulo era de Sura, filha de Michel, falecida em 1939. Levei comigo um saco plástico impermeável com fecho, e peguei um pouco de terra do túmulo de meu tio-avô, para trazer ao túmulo de meu pai no Brasil, e aos túmulos de seus irmãos e pais.

Vimos também o túmulo de um Kaushansky. Minha avó paterna e a avó paterna de Ilusha, que eram irmãs, tinham este mesmo sobrenome quando solteiras: Kaushansky. E visitamos também a outra avó de Ilusha, Sura Sobel, mãe da mãe dele.

O dia seguinte foi dedicado a uma viagem mais longa: fomos na direção de Yedenetz, hoje conhecida como Edinet. Meu avô materno Favich Malay, que no Brasil se tornou Paulo Mendes, nasceu em Yedenetz – e, por coincidência, o pai do meu cunhado, Jaime Serebrenic, também. Yedenetz era um autêntico shtetl na época em que meu avô materno a deixou, ao contrário de Kishinev, que foi a capital da Bessarábia e havia pertencido à Rússia por muitos e muitos anos e passou a fazer parte da Romênia em 1918, ao fim da 1ª Guerra Mundial. Hoje, Yedenetz já é uma cidade pequena com uns 30.000 habitantes, mas com cara de cidade. Como em Kishinev, resolvemos começar nossa visita pelo cemitério, mas aqui o cemitério não tinha nenhuma informação escrita sobre os túmulos e foi impossível achar quaisquer vestígios de parentes mortos. Uma parte do cemitério era mais nova, com túmulos bem organizados, mas, à medida que nos distanciávamos, os túmulos iam ficando mais antigos, em piores graus de conservação, até chegarmos a túmulos totalmente tomados pela vegetação, e com lápides tombadas e ilegíveis.

Minha avó materna Frida Fainbaum nasceu em Seccuron, hoje Secureni, a 13 quilômetros de Yedenetz, ao norte da Moldova, junto à fronteira com a Ucrânia [nota: Secureni fica hoje do outro lado da fronteira, em território ucraniano]. Não conseguimos chegar lá, pois queria ainda visitar Orghei, onde meu bisavô Avrum Moshe Bitelman nasceu. Seguimos viagem e paramos para almoçar em Beltz, hoje Balti. Mas Beltz também, de shtetl não tem mais nada: tornou-se a segunda ou terceira maior cidade da Moldova, com muitos prédios altos e indústrias. Continuamos até Orghei (ou Orhei), fomos ao cemitério, fotografamos, mas não encontramos nenhum túmulo de parente conhecido. Chegamos tarde de volta a Kishinev.

De um pequeno projeto de fazer a árvore genealógica da minha família foi se desenvolvendo em mim o desejo de conhecer a terra de meu pai. Conhecer o passado de nossa família, os lugares onde meu pai brincava e trabalhava, de onde saiu devido à pobreza da época e acabou chegando ao Brasil que tão bem acolheu a ele e a todos nós, fechou um ciclo dentro de mim. Infelizmente, meu querido pai Michel Bitelman faleceu em 1995, aos 81 anos de idade, e não pôde me acompanhar nesta viagem. Teria sido a realização de um grande sonho visitar a Bessarábia, e em especial Kishinev, na companhia dele, ouvindo seus comentários e vivenciando a sua felicidade em rever a terra natal. Em 1975, quando ele visitou a Rússia, o clima político ainda não era favorável e não teve a oportunidade de ir até a Bessarábia. Mas hoje, em 2006, eu realizei seu sonho e tenho certeza de que ele estava lá comigo dentro do meu coração.

26.6.08

Doutor Tabacof da Bahia

O lançamento do livro Memórias de um médico de corações – uma ode ao trabalho, do decano dos cardiologistas baianos, Doutor Rubem Tabacof, ocorreu em 03 de junho de 2008, no saguão da Associação Baiana de Medicina, em Salvador. A obra chega ao público com o selo da Editora da Universidade Federal da Bahia.

O livro é a reunião de memórias do autor, nascido em 1917 na Bessarábia e que chegou à Bahia em 1924. Com 90 anos de vida - dos quais 64 são dedicados à atividade ininterrupta - encerra a vida profissional contando o que fez e como fez através dessa autobiografia. Possui um relato leve, autêntico e habilmente escrito revelando uma vida que foi difícil, árdua, com dificuldades que às vezes pareciam intransponíveis.


17.6.08

Rosenzweig

Reproduzo, a seguir, fragmentos do artigo Seu Ully sobreviveu ao holocausto, mas não à violência do Rio, escrito por Jorge Antonio Barros e publicado em 29 de maio de 2008 em O Globo Online.

O judeu romeno Ulrich Rosenzweig, de 85 anos, chegou ao Rio há 60 anos, no pós-guerra, com uma mão na frente e outra atrás. Não tinha família, não tinha ninguém. Nem sabia falar o português. Só ele, sua fé no Deus de Israel e uma resistência à toda prova. Trazia no corpo a marca da Segunda Guerra com a qual conviveu até o fim da vida - um estilhaço de granada numa das pernas, resultado de uma das escaramuças vividas como combatente do Exército vermelho, em cujas fileiras havia ingressado para escapar de um campo de concentração nazista na Ucrânia. Ou era o campo de concentração ou entrar para o Exército russo.

Logo que se estabilizou foi buscar os pais na Ucrânia e uma irmã, Netty Maidantchik, de 66 anos, que à época tinha apenas 12 anos e já era uma das prisoneiras do campo de concentração nazista em Moguilof, na Ucrânia. Quando seu Ully chegou ao Rio, em 1948, a cidade ainda não havia passado por seu grande "boom" de crescimento, pós-êxodo rural. Ele veio em companhia de alguns amigos judeus que estavam em busca de parentes, como Nathan Kimelblat, que depois fundou a joalheria Nathan. Com a profissão de vendedor ambulante ("clintelt", em iídiche, o dialeto judaico), seu Ully vendia jóias de casa em casa, pelo Centro do Rio. Mais tarde trabalhou em tudo um pouco.

Seu Ully, como era conhecido pela família e pela vizinhança do Arpoador - onde morava - era duro na queda, embora seu sobrenome em alemão signifique "galho de rosa". Ele venceu o nazismo, o comunismo, a Segunda Grande Guerra, o medo e a solidão. Só foi derrotado pela violência do Rio de Janeiro. Morreu na tarde de terça-feira passada com um tiro no peito disparado por um assaltante que acabara de roubar R$ 9.800,00 do contínuo da empresa dele.

30.5.08

Mucinic de Hotin

Reproduzo, abaixo, trechos do artigo Israel Mucinic: de Khotin à conquista de Beer-Sheva, escrito por Hélio Daniel Cordeiro e publicado no número 01, de abril/maio de 1997, da revista Judaica, sobre Israel Sam Mucinic, nascido em 9 de maio de 1923 em Hotin, Bessarábia, cidade atualmente na Ucrânia, e falecido em 12 de março de 1997 em São Paulo:

"A cidade tinha metade de sua população judia até a Segunda Guerra Mundial e era disputada por russos, romenos, moldavos e ucranianos. Detalhe à parte: em Khotin também nasceu o advogado e historiador Elias Lipiner, cuja obra histórica sobre os judeus portugueses é das mais completas nos círculos acadêmicos de todo o mundo. O destino aproximou de forma muito curiosa Israel (como todos o chamavam) de seu conterrâneo Lipiner, nascido 16 anos antes. Ambos tinham escritórios lado a lado no mesmo antigo edifício Palacete Luz, número 39 da Rua Prates, no Bom Retiro (onde também nasceu a revista JUDAICA). Desde 1968 Lipiner vive com a família no Estado judeu.

Em Khotin Israel viu a chegada das tropas nazistas durante a Segunda Guerra e a adesão imediada dos romenos em favor dos alemães. Não chegou a ser deportado para campos de concentração, mas com outros correligionários prestou serviços forçados para a companhia Krumpf. Recordava com satisfação que 'a única ponte que construímos foi imediatamente destruída pelos russos depois de pronta.' Durante aqueles anos terríveis de guerra os judeus padeciam nas mãos dos nazistas e seus simpatizantes romenos de terríveis humilhações, subnutrição e doenças acompanhados de invernos de até 30 graus negativos. Poucos sobreviveram à somatória destas condições."

3.4.08

Apsan de Sighet

Reproduzo, abaixo, trechos da entrevista Por Dentro da Operação Kasztner, concedida em São Paulo por Arnon Apsan a Hélio Daniel Cordeiro e publicada no número 44, de abril de 2001, da revista Judaica:

"Apsan nasceu em 1927 na cidadezinha de Sighet na Transilvânia, região montanhosa e de muitas guerras bastante conhecida pelas histórias do conde Vlad Tepes (o Drácula), que até 1940 pertencia à Romênia, foi conquistada pela Hungria com apoio alemão de 1940-45 e depois voltou para a Romênia com apoio russo. A personalidade mais conhecida de Sighet é Elie Wiesel, escritor e prêmio Nobel da Paz, radicado nos EUA, que foi colega de escola de nosso entrevistado.

A população judaica de Sighet falava o húngaro e o romeno, mas principalmente o iídiche. Ortodoxos, moderados e sionistas davam a diversidade ideológica que sempre marcou os judeus. Em Sighet havia pelo menos dez sinagogas maiores, uma sefaradi, inclusive. A convivência dos judeus com húngaros e romenos era pacífica. "Eu diria que quando o comando esteve sob autoridade romena, a amizade era maior. Os húngaros, sempre aliados dos alemães, eram mais anti-semitas." - constata.

Os grupos sionistas de Sighet reuniam-se aos domingos na montanha Solovan, perto da cidadezinha. Ali cantavam canções em hebraico e sonhavam com Jerusalém."

Fonte: Revista Judaica

2.3.08

Casal bessarábio no Rio

As Seis Pontas da Estrela, romance de Zevi Ghivelder publicado em 2003 pela editora Arx, aborda a vinda dos judeus para o Brasil nas décadas de 1920 e 1930. O autor fala das dificuldades pelas quais esse povo passou na nova terra, a luta por sua sobrevivência, dignidade e, principalmente, liberdade. Certamente um relato importante sobre um período marcante da história mundial. O romance fala do casal Jankiel e Sara Grinman, que desembarcou no Rio de Janeiro, vindo da Bessarábia. Eles alimentavam muitos sonhos com relação à nova vida que teriam e, com o nascimento de Marcos, no Brasil, filho único do casal, a realidade se mostrou outra.

1.3.08

Judeus brasileiros guerreando na Espanha e na França

O Professor Henrique Samet, da Faculdade de Letras da UFRJ, publicou na edição de outubro de 2004 da Revista Espaço Acadêmico o artigo Non passaran olvidados: Judeus do Brasil na Guerra Civil Espanhola e Resistência Francesa:

"A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) atrai a atenção de historiadores de nacionalidades diversas não só por ter sido a antevéspera de uma conflagração maior mas porque envolveu cidadãos de muitas origens, agrupados nas famosas Brigadas Internacionais, um chamado e recrutamento de voluntários patrocinados pela esquerda, principalmente, a comunista, para combater ao lado das forças republicanas em luta contra o franquismo.

Já existem trabalhos acadêmicos, teses, artigos, e memórias, abordando a específica participação de brasileiros nesta empreitada perdida que mobilizou sonhadores idealistas, românticos, aventureiros e revolucionários.

No entanto, como seria de se esperar, a ênfase temática é dada ao grupo majoritário, basicamente 14 militares e 2 civis brasileiros, que, reprimido o levante de 35, ameaçados de cadeia, com penas a cumprir e sem uma perspectiva breve de mudança de rumos na política nacional, optaram e foram incentivados a transportar o ardor de seus ideais para outras paragens. En passant, mencionam, sem agregá-los a conta de brasileiros (16), um número ainda não especificado de judeus, então residentes no Brasil, (talvez mais que 6 e certamente 4), que, expulsos do país, ou achando conveniente dele se retirarem, após o levante de 35 e prisões, também fizeram esta opção e foram levados a se defrontar diretamente não só com o franquismo espanhol mas, posteriormente com os nazistas em terras francesas. De certa forma, junto com o grupo maior de nacionais foram os pré-pracinhas brasileiros mas com três 'agravantes': eram comunistas, judeus e partisans."

Leia aqui o artigo completo, que menciona, entre outros, judeus de origem romena tais como Reutberg, Lipes, Gandelsman, Gutnik, Hachternwacker, Garfunkel, Zibenberk, Smoritchersky e Krichner.


26.2.08

Judeus da Leopoldina

A jornalista carioca Heliete Vaitsman publicou um livro reunindo pesquisas realizadas pelo Museu Judaico do Rio de Janeiro junto a antigos moradores dos bairros servidos pela Estrada de Ferro Leopoldina. O livro constitui documento de grande valor histórico, resgatando a saga de imigrantes judeus que, escapando da miséria e do crescente anti-semitismo da Europa, conseguiram um novo lar no Rio de Janeiro da primeira metade do século XX. Judeus da Leopoldina, editado pelo Museu Judaico do Rio de Janeiro com o apoio de Max Paskin e com apresentação assinada por Moacyr Scliar, foi lançado em 15 de janeiro de 2007 e menciona vários emigrantes judeus de famílias romenas, tais como Koifman, Zuchen e Vainboim.

20.2.08

Flexor

O artista plástico Samson Flexor (1907-1971), considerado o introdutor do Abstracionismo no Brasil, nasceu em Soroca, atualmente na República Moldova. Viajou para a Bélgica em 1922, onde estudou pintura na Académie Royale des Beaux-Arts. Mudou-se para Paris em 1924 e fez o curso livre da Ecole Nationale Supérieure des Beaux-Arts. Em 1927, realizou sua primeira exposição individual, na Galeria Campagne Première, em Paris. Em 1929, participou da fundação do Salon des Surindépendants, atuando como seu diretor até 1938. Membro da Resistência Francesa durante a II Guerra Mundial (1939-1945), foi forçado a fugir de Paris. Em 1946, viajou ao Brasil e expôs na Galeria Prestes Maia, em São Paulo e, em 1948, fixou-se na cidade. Em 1951, criou o Atelier Abstração, em que se formaram grandes nomes das artes plásticas brasileiras. Em outubro de 2007, o Museu Nacional Cotroceni em Bucareste abrigou exposição de 100 obras de Flexor, em comemoração pelo centenário de seu nascimento.

Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais

19.2.08

Romena deportada por Getúlio

Leia aqui o ensaio Direito e História: Genny Gleiser, o anti-semitismo na era Vargas e o Habeas Corpus nº 25906/1935, de autoria do Procurador Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy, elaborado em setembro de 2007, sobre o caso da jovem judia romena. Genny, que nascera em Balti, Bessarábia, atual República Moldova, tinha na ocasião 17 anos; ela foi presa, maltratada e deportada em outubro de 1935 para a Alemanha nazista pela ditadura de Getúlio Vargas .

9.2.08

Pintor Emeric Marcier

A edição no. 29, de fevereiro de 2008, da Revista de História da Biblioteca Nacional publica um artigo sobre o pintor brasileiro de origem romeno-judaica Emeric Marcier, nascido na cidade transilvana de Cluj em 1916 com o nome de Imre Rácz. Assinado por Anna Paola Pacheco Baptista, o artigo da rubrica Arte no Exílio tem como título "O exílio como pátria amada - De judeu romeno a católico brasileiro, as experiências de vida que reinventaram a arte do pintor Emeric Marcier".

105 anos do pogrom de Chisinau

Há cento e cinco anos, em 6 de fevereiro de 1903, era encontrado morto o menino cristão Mihail Rybachenko na cidade bessarábia de Dubasari. Acusada de assassinato, a população judaica de Chisinau (Kishinev), então parte do Império Russo e atual capital da República Moldova, entrou para a história ao ser vítima do primeiro pogrom do século XX, incentivado e provavelmente organizado pelas autoridades russas, lançado entre 6 e 7 de abril de 1903, às vésperas da Páscoa. Leia artigo em português da edição no. 40 do ano de 2003 da revista Morashá. (A ilustração mostra capa de elegia pelo massacre de Chisinau, composta por Herman Shapiro em 1904).

Golgher

Transcrevo, a seguir, primeiro parágrafo do artigo "Isaías Golgher, 94 anos - Um historiador do tempo das utopias", de autoria de Leonardo Coutinho e publicado em 13 de março de 2000 na revista ISTOÉ Gente.

Dezembro de 1924. Um jovem judeu de dezenove anos desembarcou no porto do Rio de Janeiro, foragido da perseguição policial em seu país. Carregado de idealismo e expectativas, Isaías Golgher chegou em busca de asilo político, depois de ter militado na luta pela libertação da Bessarábia (atual Moldova), que havia sido ocupada pela Romênia em 1917. Começou assim sua relação com o Brasil.

Fonte: ISTOÉ Gente

Zonenschain

Doba Zonenschain (née Iampolski) nasceu em 1914, em Edinet, na Bessarábia, hoje parte da República Moldova. Emigrou com a família em 1933 para o Brasil. Foi membro da Associação Feminina Israelita Brasileira e presidente da Biblioteca Scholem Aleichem. Leia trecho de sua entrevista ao projeto Heranças e Lembranças. (Na foto, operárias judias de uma fábrica em Bucareste, 1932. Doba é a do meio.)

Fonte: Museu da Pessoa

Sukerman

Hana Sukerman nasceu em 1919, em Soroca, Bessarábia, hoje parte da República Moldova. Emigrou em 1935, com a irmã, para juntar-se aos outros irmãos que viviam na Bahia. Casou-se e foi morar no Rio em 1945, onde trabalhou por muitos anos como encadernadora de livros. Leia trecho de sua entrevista concedida ao projeto Heranças e Lembranças. (Na foto, com suas duas filhas, Susane e Kitty, em Salvador, década de 1940).

Fonte: Museu da Pessoa

Gandelman

O advogado Henrique Gandelman (Rio de Janeiro), pai do saxofonista Leo Gandelman, veio à Romênia em 1998, de onde o guiei até a República Moldova. Seus pais provinham de um pequeno vilarejo chamado Trinka, no norte da Bessarábia, tendo emigrado para o Brasil durante a II Guerra Mundial. Guiei-o por Chisinau, Edinet, Briceni e Secureni (Ucrânia), atrás dos rastros de sua família. Durante a viagem, ele (na foto, o segundo da esquerda para a direita, em Briceni) foi recebido e orientado por novos amigos, além de ter ouvido histórias comoventes sobre sua própria família e sobre o destino dos judeus bessarábios.

Kaz

Em novembro de 2004, guiei Leonel e Roberto Kaz (Rio de Janeiro) pela Romênia profunda, atrás de seus sabores, sua história e sua cultura. Pai e filho, de origens moldavas judaicas, puderam compreender melhor, ao atravessar a Transilvânia e vivenciar a hospitalidade familiar na Bucovina, hábitos específicos e idiossincrasias de sua própria família. Na foto, o carioca Leonel posa feliz diante da neve de seus ancestrais em Suceava.

Aiklender

Em maio de 2002, visitei o vilarejo de Oclanda, na divisão administrativa de Soroca, Bessarábia, atual República Moldova, a fim de conhecer o lugar de onde supostamente se originou a família do meu bisavô Salomão Aiklender. Embora minha avó tenha nascido na cidade ucraniana de Jitomir, há indícios de que seu pai ou ao menos sua família paterna tenha vindo daquele pequeno vilarejo perto das margens do rio Dniester.

Batusanschi

Em abril de 2002, guiei Silvio Batusanschi (São Paulo), juntamente com seus primos franceses Serge e David Batusanski, até a terra de seus ancestrais: Bessarábia. Chisinau (na foto, Serge é surpreendido do outro lado do monumento ao Holocausto, no centro da cidade) e Briceni foram as paradas principais, onde visitaram a comunidade judaica local e o cemitério israelita. Em Briceni eles encontraram uma prima distante, cuja existência era até então desconhecida. No caminho de volta para a Romênia, atravessamos a cidade de Botosani, topônimo que provavelmente se encontra na origem de seu sobrenome.

Presença judaica na Romênia

O mapa acima mostra a concentração da população judaica, dividida por divisões administrativas, no território da Grande Romênia, conforme o recenseamento de 1930 - clique nele para vê-lo em formato maior.

As divisões administrativas ("judete") de Cernauti, Iasi e Lapusna detinham as maiores comunidades em número absoluto, cada uma delas abrigando mais de 40 mil judeus.

N.B.: (1) Cernauti: ou Tchernovitz, Tchernivtsi, principal divisão administrativa da Bucovina Setentrional, com capital homônima, hoje na Ucrânia; (2) Iasi: também conhecida como Jassy, a mais importante divisão administrativa da região histórica da Moldávia romena, com capital homônima; (3) Lapusna: divisão administrativa na Bessarábia, com Chisinau (Kishinev) como capital, hoje capital da República Moldova.

7.2.08

A primeira viagem

Após passar o ano-novo em Berlim, tomei o trem para Varsóvia. Era janeiro de 1995. Apesar das baixas temperaturas, eu decidira ir pela primeira vez à Lituânia. Os trilhos para Vilna cruzam a Belarússia na cidade de Grodno. A fim de evitar complicações com a obtenção de mais um visto, tomei um ônibus Scania para a Lituânia, cujo caminho contornava a fronteira belarussa. Fiquei em torno de 5 dias em Vilna. Lá aprendi o quão infinitas são as tonalidades entre o branco e o preto. Fui guiado por Regina Kopilevich. Primeiro, tomamos um ônibus até Wilkomir - atual Ukmerge - onde minha tataravó Haia Sarah Papert nasceu. Das 11 sinagogas do local, apenas algumas permaneceram em pé, embora os edifícios sejam utilizados para outros propósitos. O cemitério israelita foi devastado durante a II Guerra Mundial. De Ukmerge tomamos um táxi para Poselva - atual Zelva - a shtetl do meu tataravô Leão Klabin, sábio das Escrituras e coletor de impostos, que emigrara com toda a família para o Brasil em torno de 1890. Nosso táxi era o único automóvel do vilarejo. Baseado em relatos de família, conforme os quais a sinagoga ficava ao lado do poço, fui capaz de reconhecer o edifício, em ruínas. Após tomar uma inesquecível sopa de beterraba na taverna local, fomos até a escola procurar ajuda. O professor de História nos guiou até o cemitério israelita. Vento com neve. Minúsculas casas de madeira. Entramos numa delas, uma velha senhora nos contou do bom relacionamento existente com a comunidade judaica antes da Guerra. Tinha a impressão de que iria me deparar, a qualquer momento, com Leão Klabin e suas longas barbas na próxima esquina. A profunda emoção desta viagem genealógica pessoal fez-me compreender o que outras pessoas podem sentir em tais circunstâncias. A partir daquele momento, decidi que gostaria de possibilitar que mais pessoas sentissem o mesmo.