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17.2.10

Rosenzweig de Czernowitz

Transcrevo, abaixo, fragmentos do testemunho de Lili Alexandra Rosenzweig Angel, nascida em 1921, filha de Victor Rosenzweig e Neta Gottesman, conforme colhido em 1996 pelo Arquivo Virtual Arqshoah de Holocausto e Antissemitismo.

Nasci em Czernowitz, na Bucovina, Romênia e, como havia pertencido à Áustria, minha língua materna foi o alemão. Quando tinha dois anos de idade, meus pais se separaram, de modo que passei a infância ora na casa de um, ora na casa de outro. Ambos casaram-se novamente e meu padrasto, Dr. Herzkischifter – advogado , falava russo e, apesar de ser muito severo, cuidou com esmero de minha educação. Minha família não era religiosa. Eu tinha uma grande inclinação para a música e, aos dez anos, comecei a estudar piano e, mais tarde, canto. Por um período, meu pai, que era empresário de artistas de teatro, me deu a oportunidade de assistir a grandes espetáculos.

Ao terminar o curso médio, comecei a fazer tricô com minha mãe, para uma fábrica, ajudando nas despesas da casa, até surgir a oportunidade de trabalhar como secretária numa lotérica, depois de ter passado num concurso público.

Com a guerra entre Alemanha e Rússia, em 1940, nossa vida mudou completamente. Tivemos que dividir nosso apartamento com um casal de russos que, embora fossem boas pessoas, eram bastante rudes. Passei a ser secretária do Governador da Bucovina, tendo necessidade de aprender russo, que me foi ensinado intensivamente pelo meu padrasto.

Depois da retirada das tropas russas, vendi um rádio que ganhara de um casal russo. Isso nos proporcionou alimentos durante três meses.

Com a volta dos romenos, aliados dos alemães e bastante antissemitas, começou a caça aos judeus. Formaram-se guetos e depois levaram todos os judeus para os campos de concentração e de extermínio. Muitos pensavam que, tomando os primeiros trens, conseguiriam as melhores acomodações nos campos.

Estava para embarcar num vagão, juntamente com meus familiares, quando um coronel veio ao meu encontro, perguntando se tinha pressa em viajar. Respondi que preferia ficar. Foi quando aconteceu um milagre: ele chamou um soldado e mandou que nos levasse de volta ao gueto.

Em 1943. um casal de amigos de origem judaica convidou-me para ir com eles a Bucareste. A viagem, que naquela época duraria 24 horas, levou dez dias, com muitos problemas. Mais tarde meus pais também vieram e pudemos nos reunir novamente. Em Bucareste, a vida era melhor e passei a freqüentar concertos e óperas. Consegui trabalhar em uma elegante loja de modas, mudando radicalmente minha vida.

Com o término da guerra soubemos, de uma testemunha ocular, que meu pai e sua esposa foram executados num campo de concentração. Descobrimos também, através da Cruz Vermelha, parentes que já viviam na Argentina desde 1938. Eles conseguiram vistos de entrada para nós, porém não pudemos viajar. Somente em 1948 fomos para a Itália, onde ficamos por sete meses e de onde embarcamos para Buenos Aires.

Aprendi o espanhol com meu padrasto. Por falta de acomodações, me separei de meus pais; eles ficaram na casa de um irmão de minha mãe e eu na casa de uns tios muito bem situados. Estes conseguiram um emprego para mim em uma casa de venda de discos, onde me saí bastante bem.

Em 1952, meu tio presenteou-me com uma viagem de navio para a Europa. Essa viagem foi muito importante, pois, no navio, conheci meu futuro marido: Marcos Angel, judeu sefaradi de Cavala, Grécia, dono de uma fábrica de camisas em Buenos Aires.

Em 1963, quando a situação na Argentina começou a piorar, viemos para São Paulo, onde meu marido tinha um irmão.

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