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18.1.09

Kaputt, de Curzio Malaparte

Quando o jornalista e escritor italiano Curzio Malaparte começou a escrever suas crônicas pessoais sobre a guerra no velho continente, que dariam origem ao livro Kaputt (Bertrand Brasil, 2000), a Alemanha nazista lançava-se à ofensiva sangüinária sobre o território soviético. Naquele terrível verão europeu, em junho de 1941, Kurt Erich Suckert, nome de batismo de Malaparte, era correspondente, na Ucrânia, do jornal italiano Corriere della Sera, e ostentava o salvo-conduto da temida cruz gamada que o autorizava a transitar entre as barbaridades perpetradas pelas tropas germânicas.

Envergando a farda de oficial italiano, Malaparte cobriu os combates das forças do Eixo nas frentes orientais, misturando-se a soldados, prisioneiros e guerrilheiros em cidades e aldeias arrasadas pelos canhões e bombardeios. Transitou pelas ruas do Gueto de Varsóvia, apinhadas de gente maltrapilha e amedrontada; presenciou o pogrom na cidade de Iasi, na Romênia, onde em uma única noite foram chacinados mais de 2 mil judeus; e conheceu as prisioneiras do bordel militar de Soroca, na Bessarábia, meninas de famílias judaicas, bonitas e inocentes, capturadas e exploradas pelos nazistas.

Testemunha ocular da chacina de Iasi, Malaparte também se transformou em personagem e inspirou o escritor norte-americano radicado na França, Samuel Astrachan, a escrever a obra Malaparte in Jassy, publicada em 1989, onde o autor rememora os passos do jornalista, antes e durante o pogrom. Ainda sobre a tragédia de Iasi, o diretor do Instituto do Congresso Judaico Mundial de Jerusalém, professor Laurence Weinbaum, transcreveu trechos de Kaputt em seu trabalho A Banalidade da História e da Memória: A Sociedade Romena e o Holocausto (2006). Especialista em assuntos do Leste Europeu, Weinbaum cita o testemunho de Malaparte ao cobrar do governo da Romênia o reconhecimento oficial de sua participação, ainda que tardio, na matança de 15 mil judeus durante a ocupação nazista.

Fonte: artigo Da Polônia, com Amor, de autoria de Sheila Sacks e publicado em 6 de maio de 2008 no CMI Brasil.

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