Seu guia brasileiro exclusivo na Europa Oriental

20.7.10

Os fantasmas de Varsóvia

Caminhar por Varsóvia é um estranho exercício. Não posso deixar de imaginar estar caminhando por cima de escombros, evocando a destruição provocada pelo exército alemão em 1944 após sufocar o Levante de Varsóvia. A mando do Führer, o impiedoso Verbrennungs- und Vernichtungskommando reduziu quase a cidade toda a ruínas.

Hoje, o pitoresco centro velho de Varsóvia é uma formidável reconstrução feita pelo Governo Comunista Polonês nos anos 50 do século passado, baseada sobretudo nas pinturas do veneziano Bernardo Bellotto, pintor da corte polonesa desde 1764, que a retratou mais em nome da estética do que da fidelidade urbanística.

Mesmo se quisesse me esquivar dos fantasmas da cidade, a cada esquina eles me interpelam com um monumento ou uma placa comemorativa, que remete o visitante ao cruel passado recente da II Guerra: a invasão alemã, os limites do gueto de 1940, o Levante do Gueto em 1943, o Levante de Varsóvia em 1944, a posterior destruição nazista e a invasão soviética.

A cidade, entretanto, fervilha viçosa ao som de Chopin, cujo bicentenário de nascimento é comemorado este ano, como se nada daquilo houvesse acontecido. O granito e o bronze dos monumentos registram silentes a memória torturante do passado. A cidade inteira, com toda a vida que nela circula, constitui um símbolo irrefutável da força de vontade do povo polonês. Caminhando porém por suas ruas e desviando das longas filas para comprar sorvete, alterno-me entre louvar esse orgulho e desabar aos prantos, pois sei que me movo no espaço de um antigo matadouro.

Fotos: do autor.

Nenhum comentário: